OBRA PÓSTUMA DO JOVEM ESCRITOR BRASILEIRO STÉFANO DEVES, HAVIA UMA PALAVRA DESESPERADA EM MIM, FOI LANÇADA EM PORTUGAL PELA CHIADO BOOKS - Dicas da Lu

terça-feira, 10 de setembro de 2019

OBRA PÓSTUMA DO JOVEM ESCRITOR BRASILEIRO STÉFANO DEVES, HAVIA UMA PALAVRA DESESPERADA EM MIM, FOI LANÇADA EM PORTUGAL PELA CHIADO BOOKS

Mais uma novidade no mundo editorial, desta vez no mundo da poesia: “Havia uma palavra desesperada em mim”, de Stéfano Deves, leva o selo Chiado Books e acabou de ser lançado em Portugal!
Ainda que breve, a vida não lhe passou em branco. 

Pelo contrário: era justamente no branco do papel, do guardanapo, da tela do computador, que lhe vertiam as palavras, tantas a ponto de este já ser seu segundo livro. 
O novo livro conta com poemas escritos em momentos diversos de sua vida, interrompida aos 24 anos. 
Nos tempos da escola, Stéfano utilizava as páginas vazias dos cadernos para traçar poemas. 
Por conta disso, criou o hábito de levar sempre consigo cadernetas, onde registrava cada nova ideia tão logo lhe surgia. 
Nas vezes em que estava sem papel, costumava enviar áudios por aplicativo de mensagem à mãe, Adriana Deves.
A inspiração não escolhia hora nem lugar para chegar, então tanto pode o poema estar num caderno como pode estar num guardanapo de bar, como o poema “A poça”, presente no novo livro, escrito num guardanapo, durante uma noite boêmia — relata Adriana.
Com uma intensidade singular, Stéfano tinha também muita preocupação com a estética, com um cuidado extremo às rimas, métrica, à sonoridade de cada verso. 
Ele não acreditava que somente um amontoado de palavras soltas fossem um poema. Por isso, reescreveu vários dos materiais que estão no novo livro.
Esta obra é construída por experimentações de linguagem, a arrasar sons e sentidos, podendo ser classificada como pura revolta e potência. 


A poesia, aqui, tem uma verdade visceral, que vai do riso franco e debochado do autor, que ainda tão jovem já sabia que a vida é luta renhida, até o silêncio profundo do coração, como uma mão que se estende dizendo "adiante, que o mundo é grande e é nosso".

SINOPSE:

Começou apenas como um aperto no peito, um nó no estômago que não apertava tanto. Antes que percebesse, me fechou a garganta. Pronto, estava sufocado. Com os punhos cerrados como se unidos por um ímãaterrorizantemente real. Fui a frente do espelho e sussurrei, num esforço sobre-humano: “do que tu tens medo?”. “Do que tu tens medo?” – “DO QUE TU TENS MEDO?” – a essa altura já a todos pulmões, as veias do pescoço saltadas como se se livrassem de uma carapaça de etiqueta vitoriana a qual estiveram submissas por muito e muito tempo. O espelho, igualmente irritado não respondia; esbravejava e gesticulava como quem diz: “não, eu não carrego essa culpa”. Afinal, do que tens medo? Que sentimento é esse que te prende à cama, à cadeira da sala de aula? Aos almoços em família, ao relógio, à cidade? Que sentimento é esse que te faz submisso a um futuro imaginário e morno? Afinal, do que tens medo? Que força é essa que amarra tua poesia, que diminui teu amor e te deixa tão pouca essência e te deixa tão refém do hábito? Cadê a liberdade que impedia a apatia de amarrar-se (e amarrar-te, consequentemente) à zona de conforto? Afinal, do que é que temos, todos, medo?

SOBRE O AUTOR
Poeta, professor, artista e ativista político. 
Stéfano Deves nasceu em 1992, em Porto Alegre, Brasil. 
Com espírito inquieto e provocador, desde muito cedo demonstrou interesse pela literatura e, particularmente, pela poesia. 
Cursou Ciências Sociais, Letras e Teatro na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Morou no Uruguai, Colômbia e África, onde passou por vários países, tendo passado mais tempo no Malawi.
Faleceu em 2017, após concluir o primeiro livro de poemas “Vida e morte de Rimbaud na terra do sempre”. 
Sua obra completa, ainda inédita, é composta por mais de 200 poemas, crônicas, peças de teatro e contos, espalhados entre dezenas de cadernos, quase sempre com versos escritos à mão.
Segundo o autor, “poeta é quem atrai poesia”. 
É “alguém cuja prosa convence as palavras a virarem verso”. 
Apesar de breve, sua vida vida foi, tal qual sua escrita é, intensa. 
Graças à vida boêmia e desbravadora, deixou uma obra carregada de sensibilidade, capaz de de nos fazer ver algo na escuridão de nossa época, a desconcertar certezas e provocar a intuição. 
Foi, como ninguém, um excelente anfitrião. A festa da alma foi tão boa que não nos deixou silêncio ou solidão, mas , sim, poesia.

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